sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

E viva o Ney Matogrosso!


Hoje aprendi que qualquer pessoa pode preservar e trasnformar como reserva para sempre sua propriedade particular. Foi isso que fez o Ney Matogrosso, na sua fazenda na Mata Atlântica. (Thatá)

Um terreno na Mata Atlântica transformado em reserva ecológica ajudou o cantor Ney Matogrosso a acertar as contas com as próprias origens. E a contribuir com a preservação ambiental

O cantor Ney Matogrosso é dono de um paraíso. Precisamente um pedaço de 140 hectares de Mata Atlântica próximo a Saquarema, no Rio de Janeiro, pelo qual se apaixonou à primeira vista nos anos 80, passando de carro pela região. O paraíso de Ney tem uma particularidade: permanecerá intocado para sempre, mesmo depois de sua morte – ou ao menos enquanto vigorar a legislação que rege as unidades de conservação no país. O pedaço de chão, que começou com um sítio de 26 hectares e foi ampliado à medida que surgiram oportunidades, é uma RPPN, Reserva Particular do Patrimônio Natural. Qualquer cidadão que tenha uma propriedade e queira transformá-la em reserva pode procurar o Ibama para fazê-lo. Qualquer cidadão que tenha paciência, é verdade: Ney Matogrosso levou uma década para regularizar a sua reserva, oficializada no ano 2000 – uma burocracia que associações de donos de RPPNs Brasil afora tentam melhorar. “Fui maltratado no começo. Agiam como se eu estivesse querendo me dar bem”, conta. “Mas preservar é nossa única solução. Não se derruba uma árvore ali dentro, a reserva será mantida exatamente como é.” O cantor permite apenas a entrada de pesquisadores na área. “O Zoológico do Rio, por exemplo, descobriu ali uma variedade imensa de morcegos que estão em extinção. As pessoas têm preconceito contra morcegos, mas eles fazem o mesmo trabalho das borboletas, dos passarinhos. Polinizam, comem frutas e carregam as sementes que acabam reflorestando a área”, ensina. Foi num dia de 1985 que o cantor, indo de Búzios ao Rio pela estrada velha, contemplou a serra de seus sonhos e avistou uma cachoeira no alto. “Na hora eu pensei: ‘Tudo o que eu queria na vida era um lugar como esse’”, conta. Quinze dias depois, passando por ali novamente, resolveu entrar por uma porteira para ver tudo de perto. Descobriu que o terreno estava à venda, e o proprietário, assediado por empreiteiras que queriam construir ali um condomínio de luxo. “Falei pro caseiro: seu patrão tem que vender pra mim, que não vou destruir nada.”
O negócio foi fechado depois que Ney juntou todas as economias para chegar ao valor exigido pelo dono – que subiu o preço ao saber que o comprador era famoso. Tempos depois, Ney percebeu que as águas estavam ficando poluídas e constatou que mais acima do terreno, bem nas nascentes, uma pessoa criava porcos. Conseguiu comprar essa área também. Ao longo dos anos foi incorporando mais pedaços. Comprou até um pasto que, em cinco anos, conseguiu reflorestar. Um dos detalhes mais curiosos da história é a descoberta que Ney fez tempos depois de comprar a primeira faixa de terra. No momento de fazer a escritura, ele soube que a cadeia de montanhas onde estão suas terras se chama Serra do Mato Grosso. Foi um espanto para o cantor, que batizou a propriedade de Reserva Matogrosso. “Na época eu estava pensando muito em voltar ao Mato Grosso, minha terra natal. Não sabia se ficava no Rio, se voltava às origens. Quando descobri isso, minha vida estava resolvida: vi que meu Mato Grosso era ali mesmo.” {por Micheline Alves}

Um comentário:

  1. demais essa iniciativa do ney. já me sinto inspirado a enfrentar a burô do ibama e fazer o mesmo com o terreno que temos. T, gratíssimo! B.

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