sábado, 2 de maio de 2009

Como é fácil apontar o dedo!

Encontramos pessoas proclamando o tempo de salvar a Natureza. Como se a Natureza não tivesse passado por situações mais catastróficas do que ter que conviver com a ignorância e avidez humanas. É certo sim que, na nossa ânsia pelo conforto supremo, estamos levando dor e extinção a um número de espécies. É certo sim que, no nosso antropocentrismo, estamos destruindo ecossistemas inteiros. E também parece bem certo que, apesar de tudo isso, o planeta continuará, diferente, mas continuará. Sem seres humanos - essas frágeis criaturas com corpos de carbono - a Natureza continuará suas experimentações evolutivas. Por exemplo, não é nada improvável que dê um jeito de criar microorganismos que se alimentem de plástico! Duvida? Leia "O mundo sem nós", de Alan Weisman.

Então, para variar, estamos focando o objeto errado: o externo, ilustrado em alvos como: "o meio ambiente", "a economia", "os sistemas de governo", "as religiões"... Um pouquinho de atenção e de honestidade intelectual e podemos ver claramente: todos esses alvos (salvo, por hora, o meio ambiente) são criações da mente humana. Portanto, o foco deveria se voltar para dentro, para nós mesmos. Até esse foco "a mente humana" não passa de uma abstração generalista. Essa tal "mente humana" é você que está lendo este post!

Tirei o meio ambiente do cesto de criações da mente humana, porque é a realidade, o sistema do qual os seres humanos emergem. Fique claro: nós dependemos do meio ambiente, mas o meio ambiente pode nos descartar rapidinho, como já fez antes com outras espécies dominantes. Gente que diz: - "Alto lá! Nós somos o último biscoito do pacote!" Bem, essa gente não considera que o meio ambiente extrapola em muito o planeta. Essa gente não reflete sobre o desconhecido de suas razões, ou sobre as limitações de suas antenas sensoriais.

Mas mesmo o meio ambiente é, do ponto de vista humano, uma idealização humana. Portanto, desse ponto de vista, até o meio ambiente é uma imaginação sua/minha/nossa. Isso deve ficar claro, se é para sermos mais realistas no trato com a meta-crise que assola a bio-diversidade nesse planeta azul.

Portanto, foco na mente. O que não significa que devemos abandonar os alvos externos. São como referências, como dedos que apontam para a lua. São símbolos orientadores, que representam a coisa em si, sem contudo compreender a coisa como um todo. Por quê? Porque símbolos são epifenômenos (rápido, o dicionário!). Porque somos criaturas limitadas por um corpo, e também por pensamentos (mas pode chamar de cercadinhos), e emoções (mas pode chamar de fixações).

Se queremos mesmo mudar alguma coisa, a revolução começa no nosso quarto; melhor ainda: por nós mesmos. Recorra à ajuda da História para ver como os revolucionários que queriam mudar as estruturas do mundo deixam um rastro de guerras sanguinárias, apenas para que, no final, quando têm "sucesso", leguem outra estrutura (a deles!) que novamente quer que as pessoas gravitem em torno dela. E mais: quantos desses revolucionários de direita ou esquerda consideram a proteção ambiental em seus planos? Taí o Mar Morto, dos Socialistas. E os Polímeros, dos Liberais...

Portanto, comece por você. Comece por seus pontos de vista. Por seus modelos mentais, crenças arraigadas, ações insuspeitas (vá ao Giro do Pacífico ver onde foi parar a embalagem daquele biscoito que come). Comece caindo na real: O inferno não são os outros, o inferno é você. O inferno dos pássaros e dos peixes sou eu, que os como para saciar a insaciável fome que virá de novo e de novo. O inferno dos miseráveis sou eu, que uso meus poderes para importar seus recursos em troca de espelhinhos. O inferno do trânsito sou eu, que prefiro comprar um carro que pesa várias vezes o meu peso para não ter que andar a pé, ou para não ter que chamar os governantes na chincha: - "Ei, queremos que parem de usar a grana de nosso suor para beneficiar vocês e seus clãs e tratem de criar um sistema de transporte coletivo bacana e eco-eficiente!".

Será que ainda temos a coragem? Teremos o espírito? Talvez tenhamos nos deixado domar. Fomos domesticados? A Matrix (ego) está a pleno vapor! E ela diz: - "Aponte o seu dedinho para o outro!" Culpe o outro! "Blame Canada!", não é mesmo!?

B. (na Sala de Espelhos Auto-Refletidos)